sexta-feira, 17 de maio de 2019

cartografia 4

Mapas servem ao movimento; em estado de inércia ou paralisia, não há necessidade de rosa dos ventos, estrelas, bússola. Desenhar um mapa é revelar o desejo do percurso. É sem volta e é infinito.

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Assumir-se na travessia no meio da noite escura do pior pesadelo, e aceitar serenamente o que é estranho, difícil, dolorido, feio, e também o que é flor florida, rosal formoso, presente com laço de fita, amor inconteste. Meu corpo-relevo se desenha em relação, junto, com. Minha cartografia solitária só existe em estado de alteridade.

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Hoje percebo que este mapa-movimento do meu corpo é na verdade uma carta de marear, pois que vivemos num naufrágio continuado: desespero, horror, pesadelo cotidianos sucessivos a invadir os buracos do meu corpo pessoal e do nosso corpo coletivo, infectados de lama tóxica, injustiça e deficiência cognitiva. Estar em movimento é condição de sobrevivência; um corpo inerte, parado, inexoravelmente afunda.

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