segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

cartografia 40

Exu acertou o pássaro ontem com a pedra que lançou hoje
e acertará, com a pedra que lançou ontem,
o pássaro que ainda não voou

Há 610 dias, em 28 de abril de 2019, eu invoquei Exu pra começar as cartografias. 

Nessa segunda feira 28 de dezembro do ano impredicável, chamo meu sentinela, novamente, pra, talvez, terminar.

Laroiê, meu pai.

Lá na primeira, eu escrevi:

Risco aqui a cartografia do meu corpo. Um corpo cruzado, atravessado e na travessia. Corpo-percurso, subversivo, resiliente, e que envelhece. Um corpo em busca do que já foi, e que quer lembrar o que será.

Não, eu não reabitei minhas carnes. Eu não dancei. Não estou muito contente com o que descobri. As marcas do meu corpo em sucessiva progressão não fazem de mim mais sabida e reconhecê-las não me deixa mais satisfeita. Não encontrei quase nada do que eu fui e me lembro bem pouco do que serei.

Estou mais velha, e só. 
Envelhecer é ajustar expectativas. 

Eu ia me despedir das cartografias, mas não consigo.