Há 3 semanas sem tomar pílula, meu corpo mudou. Ganhei 7 mil toneladas a menos. Sinto um incômodo ininterrupto na altura do corte da cesárea, e a depender do movimento, percebo aquele cisto que cresce no meu ovário direito. Hipersensíveis peles, mamilos, carnes e ouvidos. Meus peitos vão explodir, dóem as pequenas glândulas que moram dentro das axilas. Eu sei, são os hormônios e sua dança desnorteada depois de tantos anos de anestesia. Estou viva, vigilante e preocupada.
Descubro, assombrada – eu ainda ovulo.
Chove pesado no domingo cinza e eu prefiro assim.
Lembro.
De uns versos bonitos e tristes tatuados neste repositório de amor ridículo.
Que aprendi a andar no escuro e gosto do medo e de sentir o frio úmido na sola dos pés.
Que choro muito, pra dentro e pra fora.
Que meu corpo é bonito e macio, morada de tantas alegrias.
Que tenho saudade da minha voz.
Meu coração é bruto, cavalo sem domar, e dou graças.