domingo, 28 de abril de 2019

cartografia ou um corpo que res/existe - prelúdio

"... o projeto de normatização deste Brasil de horrores, para que seja bem sucedido, precisou de estratégias de desencantamento do mundo e aprofundamento da colonização dos corpos. É o corpo, afinal, que sempre ameaçou, mais do que as palavras, de forma mais contundente o projeto colonizador fundamentado na catequese, no trabalho forçado, na submissão ostensiva da mulher e na preparação dos homens para a virilidade expressa na cultura da curra: o corpo convertido, o corpo escravizado, o corpo feito objeto e o corpo como arma letal. Este Brasil é um país de corpos doentes, condicionados e educados para o horror como empreendimento.
(...)
É neste sentido que não acho que o Brasil deu errado. (...) O Brasil foi projetado pelos homens do poder para ser isso aí: excludente, racista, machista, homofóbico, concentrador de renda, inimigo da educação, violento, assassino de sua gente, intolerante, boçal, misógino, castrador, faminto e grosseiro. Somos isso tudo, não? Nosso problema não é ter dado errado. O Brasil como projeto, até agora, deu certo.
Eu não desisto. O trabalho é miúdo, constante, longo, de enfrentamento e aprendizado. A ideia de resistir não é mais suficiente. O papo é reexistir mesmo, com a paciência da mulher rendeira, a ginga do capoeira e a destreza de Ogunhê na forja das ferramentas: arado, lança, pilão e cimitarra.
(...)
A nossa chance é começar a dar errado, como indivíduos e coletividade, com a maior urgência. Essa é a tarefa/jangada do Dragão no mar de Aracati para os próximos dias, meses e anos. Embarquemos nela desde já, desafiando os ventos da tempestade."

Luiz Antonio Simas, 26 de outubro 2018

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