domingo, 28 de abril de 2019

cartografia ou um corpo que res/existe - abertura

Exu acertou o pássaro ontem com a pedra que lançou hoje
 e acertará, com a pedra que lançou ontem,
 o pássaro que ainda não voou


Começo aqui um registro cartográfico do meu corpo. 

Viagem anunciada: desconforto, desformatura, deslocamento.

Dançar nunca foi uma opção.
Dançar nem sequer foi um desejo.
Dançar sempre foi a saudade do que eu jamais fui.

Mas à semelhança dos meus partos - filhos, discos, espetáculos - meu corpo conhece a inércia e a iminência, e entre uma e outra, o vazio silencioso que antecede as importâncias. Feito de água, vento e palavra, a um só tempo continente e cachoeira.

Dançar é agora urgência. Ato político. Gravidez da voz que sempre tive e da que ainda terei. Procedimento e polinização.

Risco aqui a cartografia do meu corpo. Um corpo cruzado, atravessado e na travessia. Corpo-percurso, subversivo, resiliente, e que envelhece. Um corpo em busca do que já foi, e que quer lembrar o que será.

Nenhum comentário: