domingo, 28 de abril de 2019

cartografia 2

Meu corpo está a deriva, e desenha riscos disformes.
Rígido e frouxo, ele dói.
Constato, perturbada, que não sei onde está o centro, meu umbigo perdido pesa duas toneladas. Meus olhos, junto com ele, querem afundar definitivo no assoalho da sala ensolarada e quente, cheia de gente tão perto e tão longe. Ninguém me reconhece. Eu não me conheço.

Mas levanto o rosto, em resignação religiosa.
Não sinto prazer, nem alegria. Ainda. O que sinto é da ordem das certezas.
Tudo ao redor parece um grande, sorridente e ainda distante devir.
Meu corpo tem pressa e vergonha. Meu corpo dói.

Há uma beleza sofrida em abandonar-se ao ridículo.

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