quinta-feira, 14 de dezembro de 2006

pielonefrite

O enfermeiro avisa: haverá alguma perturbação visual e boca seca, mas pelo menos a dor e os calafrios vão passar. Fecho os olhos já turvos e esse nome me parece uma coisa bonita, imagino os pés de Nefertiti... devo estar delirando. Na verdade, não tem nada de bonito: pielonefrite é o nome certo de infecção renal, a segunda no ano, isso não é bom. No hemograma tem um tal de gran negativo, e o médico explica que as bactérias estão passeando na minha corrente sanguínea, e isso também não é nada de bom, podia virar uma infecção generalizada. Meu braço esquerdo tem uma porção de canudinhos pendurados, minhas costas dóem sem um segundo de descanso, minha cabeça é povoada por uma ciranda em que giram confusamente coisas disparatadas, os processos vão sair?, a Luiza está doente, será que as fotos ficaram boas?, não gravei o desenho que o João pediu, o Natal, não comprei nenhum presente, nem mesmo fiz a árvore, meu pai ficou preocupado, desmarcar a análise de amanhã. Por que isso agora, meu Deus, por que? Desentendo. E eu só queria saber dançar, talvez fosse mais fácil, mas só as veias das minhas mãos são bailarinas.

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