Sim, eu terei uma garçoniere.
E lá estará uma estante com os livros importantes: raduan, guimarães, bandeira, mário, cecília, stela, joão cabral, machado, manoel de barros, livros de correspondências e de fotos, catálogos, edições feitas de papel bonito. E haverá os filmes que importam, aqueles de assistir junto debaixo do cobertor macio, que vai aconchegar o soninho na tarde quando chover e der uma preguiça de não fazer nada, só respirar perto do nariz do outro, e que vai acolher também os corpos quando estiverem enroscados, um no outro, em cima, embaixo, ao lado, dentro. E lá vai ter uma mesa grande de madeira escura e velha, que vai alimentar os jantares e abrigar os papeizinhos dos meus bilhetinhos e bobagen zinhas, e as canetas que estarão espalhadas, os lápis de cor, os pincéis, os copos de água, as flores vermelhas, os jornais, tudo na bagunça bonita da mesa sólida. E haverá também os discos de invadir a alma, um par de copos, de pratos e de panelas, manjericão e hortelã nos vasos no parapeito da cozinha pequena. E lá estará a janela por onde entrará o cheiro da chuva quando cai no chão quente, o vento frio de arrepiar a pele, e que mostrará o mundo só às vezes, coberta pela cortina branca que pela manhã esconderá fraca e débil os raios de sol que vão invadir o dia. E lá o tempo será regido por outros mistérios, e abriremos a porta só quando tivermos vontade de sair.
E lá estarei eu e meu corpo que te espera e meus ouvidos que gostam das tuas palavras e minhas mãos que gostam das tuas e meus olhos que querem pousar sobre os teus. E estará você e tuas mãos que me percorrem e me descobrem, tirando de mim as roupas, as certezas, o meu domínio e os meus segredos.
Você me pergunta o que é amor.
Eu não sei.
Eu sei que meu corpo gosta do teu corpo e minha alma gosta da tua alma. Meu corpo se entrega ao teu e minha alma também. Meu corpo quer o teu por perto e minha alma também.
Um comentário:
Parece muito convidativo! Quando a gente finalmente mudar de time e ficar juntas, Juju,vou adorar freqüentar sua garçonière.rs.
E para complementar seu talento para o detalhe e o aconchego, estas feminices tão lindas de que sou um pouco desprovida, também te convido a passearmos pelas ruas, nos divertirmos encontrando lugares e pessoas insólitas, com trilha sonora do meu marido C. Mingus como nos filmes do Cassavetes, para dançar ensolaradamente. Sim, você sabe dançar, não apenas as veias das suas mãos.
Postar um comentário