quarta-feira, 13 de dezembro de 2006

carta ridícula II - garçoniere

Sim, eu terei uma garçoniere.
E lá estará uma estante com os livros importantes: raduan, guimarães, bandeira, mário, cecília, stela, joão cabral, machado, manoel de barros, livros de correspondências e de fotos, catálogos, edições feitas de papel bonito. E haverá os filmes que importam, aqueles de assistir junto debaixo do cobertor macio, que vai aconchegar o soninho na tarde quando chover e der uma preguiça de não fazer nada, só respirar perto do nariz do outro, e que vai acolher também os corpos quando estiverem enroscados, um no outro, em cima, embaixo, ao lado, dentro. E lá vai ter uma mesa grande de madeira escura e velha, que vai alimentar os jantares e abrigar os papeizinhos dos meus bilhetinhos e bobagen zinhas, e as canetas que estarão espalhadas, os lápis de cor, os pincéis, os copos de água, as flores vermelhas, os jornais, tudo na bagunça bonita da mesa sólida. E haverá também os discos de invadir a alma, um par de copos, de pratos e de panelas, manjericão e hortelã nos vasos no parapeito da cozinha pequena. E lá estará a janela por onde entrará o cheiro da chuva quando cai no chão quente, o vento frio de arrepiar a pele, e que mostrará o mundo só às vezes, coberta pela cortina branca que pela manhã esconderá fraca e débil os raios de sol que vão invadir o dia. E lá o tempo será regido por outros mistérios, e abriremos a porta só quando tivermos vontade de sair.
E lá estarei eu e meu corpo que te espera e meus ouvidos que gostam das tuas palavras e minhas mãos que gostam das tuas e meus olhos que querem pousar sobre os teus. E estará você e tuas mãos que me percorrem e me descobrem, tirando de mim as roupas, as certezas, o meu domínio e os meus segredos.
Você me pergunta o que é amor.
Eu não sei.
Eu sei que meu corpo gosta do teu corpo e minha alma gosta da tua alma. Meu corpo se entrega ao teu e minha alma também. Meu corpo quer o teu por perto e minha alma também.

Um comentário:

Anônimo disse...

Parece muito convidativo! Quando a gente finalmente mudar de time e ficar juntas, Juju,vou adorar freqüentar sua garçonière.rs.
E para complementar seu talento para o detalhe e o aconchego, estas feminices tão lindas de que sou um pouco desprovida, também te convido a passearmos pelas ruas, nos divertirmos encontrando lugares e pessoas insólitas, com trilha sonora do meu marido C. Mingus como nos filmes do Cassavetes, para dançar ensolaradamente. Sim, você sabe dançar, não apenas as veias das suas mãos.