quarta-feira, 20 de dezembro de 2006

ex-voto

Hoje vou receber pétalas de Santa Teresinha. Há poucos dias soube que Santa Teresinha está numa cripta em Carmelo, e seu corpo não fenece; está lá, numa caixa de vidro, há mais de dois séculos, uma moça de vinte e poucos anos, como se dormisse um sono simples. A cripta cheira a rosas, o tempo todo. Tenho uma tia que é freira de clausura, madre superiora do convento das Irmãs Carmelitas Descalças, devotas, justamente, de Santa Teresinha. Vi essa tia minha, irmã do meu pai, duas vezes na vida, ainda criança, e só me lembro de seus olhos profundamente azuis, um pedaço do céu no rosto daquela mulher velha, nada bonita, mas suspensa no ar por causa daqueles olhos. E ela recebe, de tempos em tempos, pétalas vindas lá de Carmelo, e vai enviá-las pra mim.

Vou colocá-las sobre meus olhos, pra ver se aprendo a enxergar melhor; sobre a garganta, pra proteger aquilo que realmente presta em mim; sobre meu peito, pra descobrir como ler o mundo com ele e não com meu castelinho de palavras; e nas mãos, pra que não desistam de tecer meu amor em doação.

Um comentário:

Anônimo disse...

pétalas na língua: a poesia.