sexta-feira, 15 de dezembro de 2006

diário do hospital 2

em homenagem ao lexotan
Essa noite dormi como pedra. Queria saber escrever, assim como João Cabral fez um poema pra Aspirina, um soneto em louvor ao Lexotan. Ou talvez melhor fosse uma ode, pra combinar com o nome do meu santo médico, Dr. Virgílio, que prescreveu este elixir dos deuses, uma pilulazinha tão pequena quanto cor-de-rosa, que me fez desfalecer nos braços de Orfeu e desaparecer no negro reino de Hades, nem sonhos eu tive, uma bênção, um presente. Acordei meio tonta, fazia tempo que não dormia profundo e escuro assim. O rim ainda dói, o estômago continua uma lixo, trocaram os canudinhos do braço, ganhei uma borboleta azul sob um esparadrapo transparente. Mandaram que eu ande pelo corredor, e logo vou cruzar com os outros internados, todas acompanhados de seus cabideiros de rodinhas - suportes de metal em que ficam pendurados os saquinhos de soro e as buretas de medicação, e os canudinhos que descem e entram pelos catéteres, borboletas coloridas nos braços mais ou menos envelhecidos. Que desespero isso aqui. Preciso ir embora, ou vou enlouquecer. Ei, seu poeta, mais um lexotan, por favor?

Um comentário:

Anônimo disse...

O guto ruocco prefere Mogadon