quarta-feira, 9 de abril de 2014

carta para celso

Tem uma coisa que não sabes sobre mim: eu gosto das palavras como das pessoas. E vou gostando de pessoas como fossem palavras, prefiro assim - carne, gesto, tempo, e o silêncio que antecede o nascer, a pausa que suspende o mundo no ar. Daí digo assim o que quero dizer pras pessoas que quero.
Então.
Felicidade única é re-encontrar nossos irmãos no mundo, filhos da mesma família ancestral.
Alegria é ouvir uma voz sem roupas, repleta. As palavras claras, certeiras como a flecha do índio, empunhadas com tamanha dignidade, explicitamente sorridas e choradas, na verdade de quem viveu intransitivo - não adianta fingir, meu bem, homem ou mulher, o gozo, a raiva e o amor não são dissimuláveis, mau hálito, buceta seca e pau mole não aceitam maquiagem, rá.
Como ela disse, cada sílaba um parto.
E tudo ao redor que constrói e destrói, batendo doído no meio do meu peito vermelho - sobretudo o moço de olhos claros que viu meu filho nascer, outro reencontro de felicidade, eita.
É isso.
E tudo outro, e tudo mais.
Teu tremor, Celso, briga e me abriga. Tua voz é colo de mãe menininha. Eu vou estar por perto, porque temos o mesmo endereço. E dou graças.

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