quarta-feira, 3 de março de 2010

da memória, número três, final

de tanto andar no escuro, desenvolvia olhos de gato, gestos silenciosos em movimentos delinquentes.
de tanto chorar dissimulada, trazia bolsas transparentes líquidas e invisíveis sob os olhos.
de tanto desejar alegrias intangíveis, transfigurava o rosto em sorriso permanente fácil.
de tanto silenciar palavras ásperas, talhava espinhos na garganta de gritos surdos de pesadelo, voz salobra e marítima.
de tantos impossivelmentes, predestinava passarinhada:
o filho de olhos imensos em verde floresta, herança de tristeza e esperança, sonha tanto.
a filha ensolarada de risada farta, herança de tristeza e esperança, sabe sempre de tudo.
nada mais para lembrar.
o amor sempre aqui fica aqui.

Um comentário:

Pedro Campos disse...

Que lindo. Espero que vc esteja bem, tanto tempo que nao falamos e ainda mais que nao escrevemos. Ainda estou no mesmo email, com os suspiros acentuados e a poesia dorminhoca. Beijos, Pedro (dos guardanapos azuis).