terça-feira, 13 de fevereiro de 2007

pequena

Pegou um lápis laranja e desenhou um rosto redondo, colocou um nariz. Tomou o marrom e fez os olhos, o cabelo comprido. Com o rosa, fez a boca, bem pintada, e o vestido, longo, uma bata. Com o cinza, fez a coroa da princesa e seus sapatinhos altos, que apareciam pequenos pela barra do vestido.
Era uma princesa gorda? Não, estava grávida. E era linda e feliz. Fez um coração bem vermelho e escreveu o nome da mãe que ela tanto amava. Dobrou o papel, pontinha com pontinha, bem certinho, passou o dedinho pequeno na dobra até ficar bem dobrado. E deixou na cômoda alta do quarto da mãe e saiu.
Foi quando viu sua irmã, linda e alta, penteando o cabelo liso, que era parecido com o seu, que ia crescer e ficar daquele tamanhão, para poder escovar, fazer trancinhas, prender de lado, fazer coque. E ia crescer daquele tamanho, e ficar bonita, colocar sapato de salto, vestido, batom.
E agora ela cresceu, mas ainda é tão pequena quanto antes. E continua tendo pressa de crescer, querer ser princesa logo, parar de se preparar, fazer.
(escrito em 1990; 17 anos parada, pequena, e no mesmo lugar)

Um comentário:

Anônimo disse...

é por isso que a gente vai levando... para que a pressa? a menina que faz a gente forte! a menina é nosso refúgio.