quarta-feira, 14 de fevereiro de 2007

carta ao prefeito

Excelentíssimo Senhor Prefeito de Bloganvile,
esses tempos andam superlativos: ontem antes de dormir pensei, preciso escrever uma carta pro prefeito... mas daí que hoje ao amanhecer recebi uma missiva da minha mãe (em resposta à postagem infantil de ontem) que me desatinou, e a pena ficou seca, a contrário dos meus olhos grandes e chuvosos. Enfim, feito o registro do fato esdrúxulo, termina o preâmbulo.
Tentando ser breve, esforço quase sempre em vão, digo ao senhor que esse negócio aqui deixa a gente mesmo vulnerável, e o risco tem lá sua beleza e sua tristeza, não é? E não é à toa que o meu cantinho se quer ridículo, na tentativa de já me absolver dele (o risco), cartas que já pedem desculpas no cabeçalho.
O que não se pode esquecer, acho, é que há sempre duas alternativas nessa vida, numa aritmética tão simples quanto imensa: ou escolhemos viver, ou escolhemos morrer. Mesmo eu, que tento desesperadamente fugir do meu cartesianismo riobaldiano ("quero o preto longe do branco, o feio apartado do bonito, cada coisa em seu lugar") pra cair na imensidão feminina das coisas que são e não são ao mesmo tempo, tenho de dizer isso: ou queremos viver, ou queremos morrer. Simples assim. Escolher morrer é mais fácil, mais indolor e mais cinzento, e há quem acredite ser melhor - meus respeitos, mas não, obrigada. A outra possibilidade tem sua formosura e sua dor, coloridas, molhadas e sinuosas. E tudo ainda mais perturbador no mundo misturado que é esse nosso, de meninas-putas com bonecas na mão, homens que não sabem mais entregar flores, mulheres que não sabem mais recebê-las, gente que quer viver tudo mas não quer o outro por perto de verdade de jeito nenhum, um bando de pessoas indistintas, infelizes, perdidas, sozinhas, num enorme desamor violento.
Viver é muito perigoso.
Escrever também.
Mas estamos juntos. E estamos pra isso: a casa é vossa, sinta-se à vontade, o café está sempre quente assim como o abraço, gente por perto faz a gente mais e melhor, bonitamente.
E se reclamar da minha geladeira eu te ponho porta-pra-fora, certo?

3 comentários:

Anônimo disse...

... que "escrever é evitar o assassinato do desejo".

Anônimo disse...

http://blogotodaanita.blogspot.com/2007/02/peixes-haviam-peixes-espalhados-pela.html

Anônimo disse...

E de repente viramos dois repentistas, um desafiando e outro em seu quarto de viola. Um dos prazeres entre nossos desafios e perigos da vida. Gozado, em 1990 eu também tinha 17, desenhava coisas gordas, era miúdo e ficava parado, como ainda estou. Tem um pouco de adoçante? Não sei por que, mas café feito em casa não consigo tomar sem nada e o expresso prefiro puro e maldito, como prefere nosso amigo Pio. Ah, deixa eu dar uma olhadinha na geladeira, vá?

Beijos, do prefeito.

Ps. Bonita, a resposta, como o tom multicolorido em preto e branco de sempre das cartas.