segunda-feira, 15 de janeiro de 2007

carta ridícula V

Meus olhos molhados, derramando desordenadamente, o peito seco, como uma pancada na parede dura que não ecoa. Descubro que meu ventre está tão vazio como se sofresse uma diarréia da alma.
A palavra, parece, só me serve disso, uma desinteria do espírito, não sei mais da poesia, acho que ela não gosta de mim.
A palavra, no invés, se vinga, ardilosa, e finge ser a minha explicação pro meu mundo tolo. Tola sou eu, que queria construir meus castelos todos de letrinhas, meus corredores de orações subordinadas, os salões dos meus dias bonitos com coordenadas e verbos mais-que-perfeitos, meu amores nos superlativos, as dores só nos apostos e nas contrações, e as alegrias intransitivas, num imperativo universal. O que encontro são orações sem sujeito, frases inconcordes, predicados perdidos. E a vida sem cor e feia das minhas horas que vão se atropelando num tempo que, filho da puta, não espera que eu estaja pronta.
Tudo, inclusive isso aí por-sobre, em vão.
Queria aprender o teu silêncio, esse que me entregas desviando os olhos, hostil e violento, inexplicado, e que me faz chorar. E queria, feminininha, saber, num pé-de-vento, que te importas.

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