segunda-feira, 11 de dezembro de 2006

sonho

Viajo de trem, sentada, bancos de madeira ripada. Nos ouvidos, o tla-tlac dos trilhos e aquele balancinho de fazer dormir. Nas janelas o tempo. A pele do meu rosto vai desgrudando, em grandes e espessos pedaços cai sobre minhas pernas, e posso ver minhas feições em negativo, como fosse uma forma. O sangue nasce desde o meu colo e escorre pelo chão do trem, grosso e silencioso. E me perguntam o que é aquilo, ao que respondo, simples, meu rosto está caindo. Pela janela do trem vejo meu reflexo, a cara nova não sangra, não há dor: os olhos brilhantes quase sempre a ponto de chorar, a pele de criança, o nariz infantil; os mesmos. Sigo viagem, não vou a lugar nenhum, não fujo de nada, não me escondo de ninguém. Só o tla-tlac dos trilhos sob meus pés vermelhos, o sol varando entre as janelas, um alívio em forma de vento, e uma certeza fresca, amanhecendo no meio do peito.

2 comentários:

Anônimo disse...

deixei-me / na estação esperança / e parti com convicção / de que esteva bem acompanhado / de um outro eu / que surgia naquelas padrarias / até onde / no horizonte / eu não mais me via

Anônimo disse...

... ao redor do ao redor há sempre o ao redor...
(certo mesmo é que o tempo não é linear)