terça-feira, 6 de janeiro de 2015

na travessia, dia 8

o dia amanheceu ao meu olhar igual aos demais, azul inteiro vastidão calor monolito, mas calango anunciou, hoje chove. transcorreu o dia quase parado, eu querendo murchar, luiza indisposta, e quando foi o fim da tarde, ventou diferente, as nuvens escureceram rápido e choveu, amém.

a vida muda inteira com a chuva.

nesses dias crus do sertão, o tempo é mais lento e farto, minha pele vigora ao sol e água limpa, ao tempo que envelheço. envelhecemos, e eu acho isso tão bonito. meus olhos imensos querem guardar o cheiro abençoado da terra molhada e todo o mundo de delicadezas e misérias que vasculho em cada buraco desse lugar. teus olhos azuis estão diamantinos. nosso amor cresce e predestina, rosal formoso.

a vida muda inteira a toda hora, aqui e onde quer que eu esteja, a despeito do meu coração riobaldiano que quer o feio apartado do bonito e todos os pastos demarcados. eita. mas aprendo, envelheço e aprendo, miúda, devota e teimosa.

"Que fosse como sendo o trivial do viver feito uma água, dentro dela se esteja, e que tudo ajunta e amortece – só rara vez se consegue subir com a cabeça fora dela, feito um milagre: peixinho pediu. Por quê? Diz-que-direi ao senhor o que nem tanto é sabido: sempre que se começa a ter amor a alguém, no ramerrão, o amor pega e cresce é porque, de certo jeito, a gente quer que isso seja, e vai, na idéia, querendo e ajudando; mas, quando é destino dado, maior que o miúdo, a gente ama inteiriço fatal, carecendo de querer, e é um só facear com as surpresas. Amor desse, cresce primeiro; brota é depois."

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