terça-feira, 13 de novembro de 2007

carta férrea

Precisaria, meu senhor meu, de uma bigorna amarrada aos meus pés pequenos pra que fiquem no chão, mas a memória é tão mais concreta e meu corpo fácil sobrevoa as mesas feias e os papéis acumulados, o tempo escoa entre os dedos finos, prejudico o erário em favor da nossa coleção agora compilada. Passo as horas ao largo, em outro sítio, a todo instante sofro o assalto da tua presença que me leva a firmeza dos joelhos, tu que como nenhum sabes derrubar-me dos saltos. Tua dor diante das minhas mãos não desgruda do dentro dos meus olhos, arrefece o meio do umbigo, suspendo, e lá estou eu de volta ao nosso calendário lunar, às noites imensas e horizontais e sem sono nenhum. Visito, como gostas, várias vezes meu próprio corpo na tentativa transversa de que vás embora daqui, mas no reverso e inverso estás em mim ainda mais definitivo, cadeado que perdeu a chave, âncora de profundezas profundas, navio atracado sem possibilidade de partir.

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