terça-feira, 15 de maio de 2007

na travessia

juntos, e os mesmos olhos de menino encantado que descobriram um dia sua ancestralidade nos pára-choques de todos caminhões, ganharam nova claridade ali no tormento da casa velha, no beijo ainda aflito de uma mãe, no sorriso sabedor da outra, na paciência sagrada e ausente do pai, no corpanzil vazio e pesado do caçula, na escolha-caramujo da irmã sorridente e ainda bonita. As mãos que desenham meu futuro encontram seu maior viço nos papéis mimeografados tirados do pó do maleiro: retroversos. E a palavra sempre reta percebe outra inflexão, ali, acocorado no quintal, ali, nas ruas de pedras escuras, ali, na quermesse estrelada, ali, nos beirais bonitos e esquecidos, revividos em cada um dos seus dias seculares por aqueles olhos da cor do céu do domingo continental. Ainda menino, olhos de imensidão, não cansa de procurar a cifra secreta nas placas, nas rachaduras, nos silêncios. Ainda menino, emociona e desanda, desentende de onde vem o medo, freme, resiste em adolescer. Ainda menino, quer meu corpo por perto por não se e me perder. Ainda menino, sabe, e por isso não envelhece, da beleza sem precedente e sem explicação que reside na delicadeza das alegrias miúdas e sem importância nenhuma, e também da

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