segunda-feira, 9 de abril de 2007

vãos

Se eu perdesse a pena, assim como que por desgraça repentina, o certo é que nada me faltaria. Mesmo se eu perdesse o discurso todo e as palavras que me confortam e que me constituem, nada não me faria falta. Fossem embora de mim as preposições e as subordinadas, até mesmo os imperativos que a mim me servem nos cantos do desespero, talvez eu nem percebesse. E se passassem por entre meus dedos a sintaxe, os acentos, os apostos e os gramemas, nem sequer haveria despedida.
Hoje sou corpo feito de carne e afeto, carinho e violência.
Aquilo com o que fui forjada exala pelos poros e buracos, soa em meus dentes que esquecem as consoantes, pronuncia nos lábios vogais plenas, vibra nos ossos dos meus ouvidos, acende as cores dos meus olhos, ocupa a sala das minhas narinas, escorre quente por entre as minhas pernas e fecunda o chão dos meus novos dias.
Um tempo de beleza, amor acima de tudo, apesar da contra-mão do mundo.

2 comentários:

hpg disse...

sê livre, eis o desígnio da providência. nem na chegada, nem na saída.

Anônimo disse...

Gastei uma hora pensando um verso
que a pena não quer escrever.
No entanto ele está cá dentro
inquieto, vivo.
Ele está cá dentro
e não quer sair.
Mas a poesia deste momento
inunda minha vida inteira.