quinta-feira, 1 de fevereiro de 2007

feitio

Não mais suplico. Tampouco paraliso. Há muito não tenho tempo para esses luxos, pelas realidades mais que imperativas, de obediência inquestionada e amorosa. Angústias, as conheço com muita intimidade, e faço delas meu mote e meu pasto, alimento da garganta e dos pés. Meu corpo, aliás, sabe muito bem de seu desenho no mundo, e encontra em si o espelho das memórias - peito recolhido, ombros carregados; mas conhece, porque já viveu, suas possibilidades e seu movimento, e vai endireitando-se tímido mas corajoso, pernas firmes ao chão, umbigo que carrega seu peso, ancas que desejam, ar ao fundo, as costas como janelas de abrir, braços libertos, olhar vigilante e úmido.

Pois que acredito nos afetos, e é por eles que me achego, às vezes doce, às vezes aflita, mas sempre inteira, e não quero muito não, muito menos a condescendência falastrã - a falta não me preenche, apenas se apresenta, simples, assim como o silêncio, aqui; da dor não fujo mais, também é minha conhecida, no seu variado.

E não é à toa que cantei chorando "e logo eu que procuro infinitas formas de amar e viver/ posso apenas declarar que o medo é que faz a nossa dor crescer".
Meu coração é bruto, cavalo sem domar, e dou graças.

Um comentário:

Anônimo disse...

amém.