quarta-feira, 21 de fevereiro de 2007

carnavalesca, 3

No subúrbio é que o Rio de Janeiro é mais: as mulheres arrumam os cabelos e levam as cadeiras de praia de casa pro meio da rua, no dia em que a rua não é pros ônibus, mas pro churrasquinho com cerveja em garrafa e copo de plástico, a dois e cinquenta, com suas crianças cheirosíssimas, com roupa de domingo (embora seja terça-feira gorda). O vendedor de cerveja também leva sua cadeira de plástico, e a mãe, a tia, o sobrinho pequeno e a filha que adolesce preta e linda, barriga e braços de fora, reluzente. Mas o que explode mesmo são os meninos: pretos, tão pretos que ardem, bonitos, fortes; as mãos com intimidade na baqueta e no couro, sorriso de muitos dentes, olhos firmes no mestre que comanda a batucada com as mãos, o apito e os olhos de quem sabe que a história ali é muito outra; ali, em Vila Isabel, embaixo do morro do Macaco, não sinto o cheiro de sundown da zona sul. Ali, meu vestido branco é invadido por uma misturada. Tristeza porque não vou fazer nunca parte deste lugar. E alegria, aqui a poesia é feita com o tempo, e meu corpo é capaz de sentir: pulsante, vivo, tomado, me leva. Valei-me, que eu ainda sei chorar.

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