Há alguns dias observo um novo fenômeno: a hipersensorialidade das minhas mãos. Não é uma sensação incorpórea, ainda que extremamente energética; tão pouco é uma ampliação dos meus membros, como se se tornassem tentáculos maiores. Ou aquela vermelhidão-grito das minhas peles finas.
Antes, é uma acuidade cujo vetor radial aponta pra dentro, como se milagrosamente se multiplicassem os invisíveis receptores neuronais que se conectam a cada célula e se acomplam uns aos outros, e o conjunto deles aos feixes de transmissores mais robustos que, de mãos dadas, chegam à parte do meu cérebro que registra áspero, quente, macio, úmido. Sobretudo a percepção dos mínimos relevos, o encontro dos primeiros fios de cabelo à nuca, a linha da borda onde acaba o lábio inferior e começa o queixo, o buraquinho que adorna meu lóbulo pela frente e por trás, o desenho preciso e tridimensional da cicatriz da cesárea, a cordilheira das aréolas, as costura das peles de dentro com as de fora e sua cosmogonia.
De modo que as coisas mais ordinárias se tornaram vagarosas, como alisar a colcha sobre o sofá ou digitar as teclas do computador: me pego escorregando os dedos vagarosamente entre as teclas ou os bordados pra medir a exata distância do vão que os separa e me deixar invadir pelas cócegas que o salto provoca.
A lascívia superlativa de tocar seu corpo.
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