As cartografias fazem aniversário.
Um ano de desnudamento poético encarnado: meu corpo, entranhas, reminiscências, vergonhas, projetos e medos devassados deliberadamente. Trinta autorretratos nua, imperfeita e sem pejo. Trinta tentativas de explicar e entender o que eu não sei. Trinta derivas. Trinta naufrágios. Trinta absolvições. Uma só travessia.
Em um ano:
eu não sei mais a diferença entre meu dentro e meu fora. Isso rege tudo o que vem adiante;
eu sinto muito mais: vísceras, articulações, pensamentos, espaços, camadas subterrâneas das peles, mucosas, músculos, mínimos movimentos, líquidos, luzes, ventos, lembranças, estruturas, raciocínios, vibrações, números e silêncios povoam meu corpo-mulher que cresceu exponencialmente;
uma nova palavra preferida: gesto;
a consciência é um caminho sem volta. Não é possível des-sentir, des-saber, des-memorar;
minha relação com o outro e com o mundo é essencialmente erótica: música, palavra, palco, plateia, desenho, poesia, amizade, amor, sexo, inteligência, discurso, comida, sono, ensino, aprendizagem, tudo em mim é desejo em sua plurissignificância magnífica: esperança, impureza, prazer, vontade, intenção, necessidade, requisição;
não há ação no mundo que não seja política. Uma vez que decido publicar, por consequência, tudo que é meu íntimo é também meu político (como lindamente me escreveu meu amor bárbaro). Afirmo, mais uma vez então, à guisa de estatuto: eu canto contra a morte;
não estamos mais diante da iminência da morte: estamos dentro dela. Leio de um amor distante que não podemos esquecer quem somos - brasileiros filhos da dor, fazedores da alegria, gente teimosa de afeto e reinvenção. Sim, sou, somos, e eu choro muito agora porque eu só sei viver e ser no fio infinito e generoso da beleza. Mas não acredito mais numa saída que não seja revolucionária, e portanto, violenta.
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