Há poucos anos eu desenvolvi uma hipersensibilidade na pele, de modo que ao menor atrito ela se irrita, faz um vermelhão proeminente de mini bolinhas – às vezes juntas formando riscos, às vezes nuvens avulsas de constelação – que coçam por alguns minutos, esquentam e depois desaparecem devagarinho. Basta carregar a sacola de supermercado no antebraço; roçar a lombar na costura da calça ou na etiqueta mal cortada; ou mesmo apoiar a barriga na beirada da mesa áspera: a pele logo grita, reclama e configura suas ilustrações rubras e perecíveis.
No início, assustei-me e pensei em procurar um médico, um remédio. Com o tempo e a teimosia da reação, comecei a achar graça, colecionar desenhos, adivinhar as conjunções astronômicas de acordo com o peso do pacote ou a largura da alça.
Mas o que eu gosto mesmo é quando você acomoda a barba entre as minhas coxas que respondem, imediatamente, com milhões de estrelas sanguíneas.
Minha pele passou a denunciar em cores as minhas tangências.
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