Neste mapa que tenho desenhado a custa de dor e paciência nas finas camadas sobrepostas que me constituem - derme, epiderme, subterrâneo, líquido, inferior, inferior de dentro, depois, escuro e rés do sangue - há linhas que repentinamente se cruzam, atravessam, entrelaçam, e é nesses pontos precisos e iluminados que ergo meus altares, enterro o fundamento, firmo a cabeça e bordo delicados ex-votos com flores de muitos pontos miúdos e multicoloridos pra saber que, pralém do tempo e do espaço, é pra estes lugares que eu devo voltar. São pequenas rosas dos ventos, miúdas agulhas magnéticas, imperceptíveis pilhas de pedras e algumas migalhas de pão enfileiradas que compõem o traçado invisível das minhas certezas.
Minha carta de marear ganhou hoje uma nova encruzilhada: ponto, vela, amarração.
Nela, eu encontrei uma generosidade nova dentro do meu corpo. Meus músculos e os vazios de dentro de mim ofertaram-me uma qualidade de voz que agora, horas depois, no escuro de um apartamento feio que não é meu, me fazem chorar demovida de alegria. Sozinha, nesta cidade litorânea e gelada que me recebe amorosamente com um sotaque ancestral e cheia pessoas que abraçam apertado, eu me sinto profundamente grata a este corpo meu, que eu construí, forjei, judiei e cuidei, e que me faz ser o que sou. Um corpo que, uma vez mais, desconheceu seus limites, se assombrou, rodopiou, e aprendeu consigo mesmo.
Hoje eu descobri o meu nome.
(em Itajaí, SC)
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