Mas, enfim, de alguma coisa serve essa cabeça cheia de minhocas, palavras e insônias, aqueles 12 anos de análise. E certamente por conta do chamado da minha coroa que agora me guia, ontem dei um troço silencioso: eu fui dançar.
(Eu sou a pessoa que chora na aula de dança)
E no último movimento, o que me fez travessar a sala e dizer meu nome infantil e, na mão inversa, ver, aguardar e ouvir o nome dela feito só para mim, eis que o parágrafo reaparece, reluzente e inédito, sonoro como a gargalhada de um Exu bonito, em rodopios. Pois que reproduzo aqui na forma de presente, agradecimento e sinal:
"e, circunstancialmente, entre posturas mais urgentes, cada um deve sentar-se num banco, plantar bem um dos pés no chão, curvar a espinha, fincar o cotovelo do braço no joelho, e, depois, na altura do queixo, apoiar a cabeça no dorso da mão, e com olhos amenos assistir ao movimento do sol e das chuvas e dos ventos, e com os mesmos olhos amenos assistir à manipulação misteriosa de outras ferramentas que o tempo habilmente emprega em suas transformações, não questionando jamais sobre seus desígnios insondáveis, sinuosos, como não se questionam nos puros planos das planícies as trilhas tortuosas debaixo dos cascos, traçadas nos pastos pelos rebanhos: que o gado sempre vai ao poço." (Raduan Nassar, Lavoura Arcaica)
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