Meu canto mora na beira do precipício.
Ali, na linha tênue que separa meu corpo do ar, meus pés do desfiladeiro, meu umbigo da morte, eu quero a minha voz.
No risco.
No assombro.
No alívio.
Eu habito entre margens: a memória do que eu fui, a saudade do que eu não fiz, meu coração-cavalo-sem-domar, minha pele fina e fácil, dia-mantes, tristeza e as tantas linhas bifurcadas impercorridas que vão se desmanchando em varizes, hematomas, estrias, enxaquecas.
Meu corpo está apavorado e paciente. Aprendi recentemente a caminhar nos seus escuros invisíveis de um jeito tão novo e generoso que ainda me assusto quando chego perto de escutar o que eu ainda não vivi.
Sim. Do fundo da noite partiu minha voz: e é deste escuro que quero ver brotar a palavra.
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