terça-feira, 25 de agosto de 2015

carta turva

os dias, inexoravelmente, passam.
desnorteados.
chega de repente uma lembrança, um vento bom. vai embora. não sei nem da saudade.
vez por outra a macaca pergunta rápido e meu coração dói doído; mas ela, como sempre, sabe de tudo. ela também está em silêncio.
não sei onde enfiar a poesia, os desejos partilhados, a risada solta, o calor do corpo.
meus olhos cansados teimam em não dormir direito atrapalhados pelos sonhos confusos que desde então me visitam toda noite - sonho muito e nada se aproveita. nosso dia seguinte nunca esteve tão incerto, o presente de oito anos acumulando faturas, os cadáveres de leões moribundos pela sala, os seus olhos de azul profundo miúdos se acinzentando, os corações mudos procurando remontar-se dos caquinhos, a cicatriz que ainda não fecha.
as contas, todas elas, não fecham.
é que não basta a saudade. não bastou o amor desigual. não bastou o esforço díspar. nosso futuro era maior e mais bonito que isso, e eu não me perdôo por não ter entendido a tempo de suspender o tempo e não deixar o sofrimento entrar na minha casa e na minha cama. minha cama que ainda padece.
envelheço rápido. estou tão triste. meu corpo está cansado, murcho, adoeço.
ainda vou esquecer as palavras que não queria ter lido e ficar só com a memória, ainda que pouca, do que foi bom.
por enquanto, só arde.
mas os dias, inexoravelmente, os dias passam.

Um comentário:

Anônimo disse...

A saudade existe, o amor também. Beijo nela, e outro em vocês. Três.