saudade do meu filho de olhos de floresta. da minha casa, meu chuveiro, meu quintal e a mesa de madeira imensa, meu armário de louças. saudade de dormir e trepar na minha cama. memória dos seus olhos, da sua risada solta, dos cabelos enroscados nos meus dedos. saudade do meu horizonte de dois lados e do café, todos eles. saudade de cantar, dos meus amigos, do risco, trabalho em alegria. saudade sobretudo do algum silêncio.
dias atrás, no almoço, um anu branco bicou um filhote de rolinha já emplumado que caiu do ninho ao pé da caramboleira. minha macaca e o calango acudiram o passarinho, a asa muito machucada, limparam a ferida e colocaram protegida numa gaiola, com água e quirera, até se recuperar. luiza deu nome: asa de ouro. hoje soltaram no terreiro que é pro bichinho não acostumar na gaiola e pra ver se já consegue bater a asinha. asa de ouro andou, ciscou, comeu, até deu uns pulinhos, mas no entanto ainda não voltou a voar.
"Reinaldo, Diadorim, me dizendo que este era real o nome dele – foi como dissesse notícia do que em terras longes se passava. Era um nome, ver o quê. Que é que é um nome? Nome não dá: nome recebe. Da razão desse encoberto, nem resumi curiosidades. Caso de algum crime arrependido, fosse, fuga de alguma outra parte; ou devoção a um santo-forte. Mas havendo o ele querer que só eu soubesse, e que só eu esse nome verdadeiro pronunciasse. Entendi aquele valor. Amizade nossa ele não queria acontecida simples, no comum, sem encalço. A amizade dele, ele me dava. E amizade dada é amor. Eu vinha pensando, feito toda alegria em brados pede: pensando por prolongar. Como toda alegria, no mesmo do momento, abre saudade. Até aquela-alegria sem licença, nascida esbarrada. Passarinho cai de voar, mas bate suas asinhas no chão."
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