quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

idílio

Ele chega assim desavisado ao telefone, e fala comigo como se no programa de entrevistas na televisão, mas diante dos meus olhos vejo as imagens infantis do bruxo da novela, como sou ridícula, e a conversa se distende na contra-mão do costume da repartição, o assunto que começou na morte repentina da secretária e na inaptidão por procedimentos vai viajar para outras paragens, paris, samuel e bertolt, romance do novaiorquino, museu alemão das separações, tudo assim de correnteza, finalizada na promessa de um idílio internético e contemporâneo, como são as relações sem abraço.
Eu envio um link, ele deseja passear em Istambul, eu devolvo um parágrafo, ele retorna com uns versos decorados na infância, eu ofereço meia dúzia de idéias aborrecidas na minha tristeza precoce de quem envelheceu cedo, ele me presenteia com sua alegria ligeira de quem não perdeu o tempo da história e viveu como tinha de ser, eu cumpro a promessa com gentileza, ele me faz as perguntas certas e sempre as mesmas, eu desenterro a memória da menina cheia de vontade e certeza que um dia eu fui, ele me predestina feroz dizendo que sou de aço e que tenho muitos corações.
Ele assina desespoir, e mal sabe ele que esse é, no avesso, meu nome.

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