segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

carta leal

Quando estiveres com outra mulher, meu senhor meu, peço:
que guardes na memória a angulação das ancas, a curva dos quadris, o ponto exato onde terminam as nádegas e iniciam as coxas, o recorte anterior dos joelhos, a profundidade dos tornozelos, a concha da planta e do peito dos pés, a distribuição dos dedos;
que desenhes com as mãos o ventre e o umbigo, a lateral das costelas, a junção delas com o colo e com a espinha, o caminho dos ossos que sustentam os ombros e o pescoço e os vãos preenchidos de pele e suspiro;
que descubras o comprimento dos braços, a fundura das axilas, o ranger silencioso dos cotovelos, as dobras da chegada ao punho, a maciez das mãos, as linhas da palma, a parábola entre os dedos, os nós, o nascimento das unhas e sua forma e cor, o relevo das veias sob a tez fina;
que acompanhes atenciosamente o movimento dos lábios e da língua, das pálpebras, dos cílios, das narinas em inspiração, das maçãs do rosto, do queixo, das orelhas, dos fios de cabelo em torno da testa e diante das têmporas;
que meças a densidade dos seios, o raio de cada auréola, a geografia dos mamilos, a velocidade da contração quando morderes cada um deles com carinho, a redondeza das glândulas e gosto presumível do seu leite;
que determines com precisão a dimensão de cada parte do seu sexo, especialmente do vale entre os pequenos e grandes lábios, do clitóris em todos os seus possíveis estados e do espaço entre a entrada da vagina e as pregas do ânus;
que afiras a extensão e o volume dos pelos e a trama do seu rendado, e ainda as variações de temperatura e umidade da pele e das mucosas de cada vão, de cada membro, de cada buraco.
Peço, meu senhor meu, que saibas de cor tudo o que haverá para saber e até mais, sobretudo a composição dos seus odores e a música escondida no arrepiar dos poros e no encontro do corpo com o ar. Decores e, depois, ainda quente, descreva-me pormenorizadamente: assim poderei sê-la para continuar a ser tua.

2 comentários:

Anônimo disse...

Eis um belíssimo texto! Aplausos, Juliana!

Amélie disse...

Noooooossa. Adorei.