Veio envolto em rosas, com suas cinco gavetas divididas em quinze compartimentos cada uma, de madeira encerada pelo tempo e gasta pelo uso de mãos que desconheço mas que faço minhas. Nos números precisos, escolhidos, as surpresas que, uma a uma, devolveram ao meu rosto o sorriso conhecido, aquele que tinha nas festas de quando criança: as três plaquinhas de ferro esmaltado, as nove rosas aveludadas, o anel de prata com o santo guerreiro, o cartãozinho florido, os sapatos de princesa, a outra rosa no vidro, os dois pássaros iluminados, uns versos pornográficos, as outras rosas de plástico, o papel de seda. Nas horas que abrem o novo ano, tudo volta a ter a certeza que eu tinha no sorriso que se me escapava orvalhado nas festas de quando criança. Visto o amuleto no anelar da mão esquerda, calço os sapatos, beijo tua boca como fosse a primeira e a última vez, sirvo-te com a calma e a urgência que são nossas e pra sempre serão, pronuncio as palavras sagradas enredada nos teus braços, adormeço protegida pelo teu calor como dormiria uma menina, sem medo do escuro, do silêncio ou da solidão. O dia amanhece perigoso como todos os outros, mas então me lembro quase e ainda assustada que tenho já uma nova memória e meu corpo conhece outro movimento, e este é o maior dos presentes.
A nossa flor segue com viço, perfume e cor: a rosa nas patas do minotauro, no labirinto, no meio do dia, no meio do mundo, no risco e na metrópole, na travessia.
2 comentários:
o retrô retrós de oz, retroz: a linha mágica no labirinto cotidiano.
rosas por mim cultivadas, anualmente em ritual.
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