Na volta dos dias de azul quase fictício esperam-me as feiúras de sempre: os papéis anotados sobre a mesa, a letargia do administrador, a pobreza do técnico, a conta no banco, o concreto pintado, a doutora impeditiva, as mensagens irritantes, a persiana empoeirada. Espera-me sobretudo essa vontade cristina: nossa casa de cortinas brancas, os filhos no sol, flores frescas, árvores cortando o céu, estrelas de que quase me esqueci, amanheceres de amor bem cedo... e meus impossíveis vão crescendo enormes e desesperados. Ontem chorei de novo sob seus braços, hoje meus olhos seguem turvados: saudade imensa dos meus, do que ainda não vivemos.
O outro lado do meu peito sorri no entanto e em outra velocidade:
camiseta branca tatuada
pano de prato e poeira no pára-brisa
fogão cosmopolita a cinquenta e cinco
fogo crispado na lareira
segredo gravado na mala de couro
Choro doído porque quero usufruir do direito inalienável de construir nossa felicidade.
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