O certo é viver de belezas.
Das que estão nas latas de biscoitos, rosas em relevo, forminhas de papel vegetal.
Das que aparecem de repente e amansam os olhos, caixa de vidro, banco de madeira, flor de lata, copo colorido, oratório velho, pedra, cartão postal.
Das que surgem bailarinas e sorridentes, prateleiras arrumadas, gavetas refeitas, interruptor, chave de fenda, rodinhas, pijama de listras, manhãs amanhecidas com beijo na bochecha.
Das que nascem na simplicidade, na alegria e na desimportância de uma idéia boba, transmutada em coisa de cor, volume e peso.
Das que moram suaves no calor da pele que encontra a outra pele, que se podem ver, que não se podem ver.
Das que encontram um lugar, uma destinação, um prelúdio, um vir a ser.
Das que vão sendo tecidas em variada velocidade e delicadeza com muitas mãos - as minhas, fazedoras, vão assim querendo reencontrar o tempo, reinventar o rumo, costurar o corpo, cerzir.
Certo, certão, certame, certeza, cerzidura, urdume, varal, poesia: vivemos e viveremos assim, enredados em belezas.
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