sete.
ela, mais sorridente que nunca, iluminava o decote descuidado, generosa de seus amores.
ele tem a voz mais baixa que imaginei, remexia na cadeira desafeita ao joelho, e me abraçou inteiro.
ela, dupla, miúda, olhos molhados imensos, cantarolou em silêncio a canção de ninar que dediquei.
ele é tão alto, de sorriso surpreendentemente imenso, fechava os olhos pequenos, devagarinho-vagarim.
ele ao meu lado, meu, as patas doloridas nos meus ombros e nas minhas coxas, minha rosa em tuas mãos, nós navegantes da certeza, pois que bordei com a linha celeste dos teus olhos as iniciais nas sete camisas de dormir, e sucumbo inconteste à tua fome de tantos nomes, continente da tua ordem, vassala, prostituta, mulherzinha, tua.
eu derramada e úmida, sangrei a calcinha de renda pérola e cor de rosa.
sete.
ela não dorme e faz girar o mundo.
ele a sustenta com seus olhos de tantas encarnações.
ela tem acento infantil, litorânea.
ele me perscrutava franca e docemente.
ele me chama vagabunda, e eu gosto, mais.
eu os admiro.
porque sou devota dos encontros verdadeiros.
porque apesar de toda dor, não endureci e trago sorriso sanguíneo, choro solto e quadris fáceis.
e porque fui forjada no afeto e sinto amor desmedido, cuido, de longe, que estejam protegidos: que a malvadeza desse mundo é grande em extensão, e muita vez tem ar de anjo e garras de dragão.